O jornal O Globo noticiou que a Rússia voltou a enviar gás à Alemanha pelo gasoduto Nord Stream 1 nesta quinta-feira, dia 21, após um vácuo de dez dias em decorrência de manutenção. O fluxo está em torno de 40% da capacidade do gasoduto, mesmo nível antes da paralisação de dez dias. Embora a notícia certamente tenha aliviado os temores europeus de que o corte fosse permanente, a União Europeia (UE) ainda possui uma série de incertezas.
De acordo com a Uniper, uma compradora alemã do gás russo, a retomada do abastecimento ajuda o mercado europeu, mas a situação permanece preocupante. A dependência da UE nesse combustível fóssil proveniente da Rússia é muito grande – antes da guerra na Ucrânia, os russos exportavam cerca de 40% do gás consumido no bloco europeu. Como o fluxo estava reduzido, o continente enfrentará problemas para abastecer os estoques para o inverno.
Na Alemanha, por exemplo, os estoques estão em torno de 65%, bem menos que a meta de 90% do governo. Se o fluxo se mantiver no mesmo nível da semana anterior às reformas, levará cerca de dois meses para que o objetivo seja atingido.
Na visão da ministra germânica de Relações Exteriores, Annalena Baerbock, a Rússia continua a usar “a dependência energética como uma arma”. Esse pensamento também é compartilhado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que anunciou nesta semana o plano do braço Executivo da UE para que seus países-membros reduzam o consumo de gás em 15% nos próximos oito meses para compensar a queda na oferta russa.
Para tanto, é necessário que 27 países do bloco aprovem os cortes, e nações como Itália, Polônia, Grécia, Hungria, Portugal e Espanha já manifestaram objeções. Já pelo lado russo, o discurso é que as sanções impostas pelo Ocidente por conta da invasão à Ucrânia acarretam problemas na manutenção do Nord Stream 1.
O fato é que a Europa, que passa por terríveis ondas de calor, tem sua segurança energética nas mãos de Moscou. Além disso, o preço do gás está inflacionado – aumentou mais de 700% desde o início de 2021. Para se aprofundar sobre a questão, leia artigo publicado ontem – quando haviam temores de que a torneira do gasoduto não seria reaberta – no site Statista sobre a dependência europeia do gás russo e a influência no PIB do continente.
Comentário da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN):
A Alemanha, principal economia da UE e quarta do mundo, simboliza bem a fragilidade geopolítica que a Europa tem no setor energético, ao depender demasiadamente do suprimento de gás da Rússia. Especificamente com relação a Berlim, a aposta na política de transição energética Energiewende, na qual abandonou a geração nuclear e investiu maciçamente na expansão da matriz renovável, foi um “tiro que saiu pela culatra”, conforme matéria que divulgamos anteontem (leia aqui). A fonte nuclear confere a uma matriz elétrica diversos benefícios, como estabilidade, firmeza e segurança, e, a um país, independência e soberania energética.
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Foto destaque: Terminal do Nord Stream 1, que cruza o Mar Báltico ligando a Rússia à Alemanha / Crédito: John MacDougall
Fonte: O Globo (com agências internacionais)