A guerra na Ucrânia evidenciou o perigo da dependência energética dos países europeus em relação à Rússia, resultado de escolhas de longo prazo pautadas pelo viés político em vez do estratégico. A renúncia da Alemanha à geração nuclear deixa o fato claro e deve levar a Europa a “ressuscitar” a nucleoeletricidade para garantir a autonomia elétrica.
Hoje, é Vladimir Putin quem lança aos olhos da Europa o erro nuclear alemão. Sem gás russo, não existe mais nenhuma indústria alemã, e Berlim deve, portanto, manter suas usinas movidas a carvão e linhito para sustentar sua matriz elétrica renovável.
Cegueira ecológica
Primeiro, a arrogância. A Alemanha está cometendo o grande erro de abandonar a energia nuclear por causa de sua cegueira ecológica. O ministro das Finanças alemão reconhece que essa estratégia energética é equivocada por estar baseada sobre a dependência das fontes renováveis apoiada de forma ilusória pelo gás, carvão e petróleo russos, e não por uma energia descarbonizada nacional como a nuclear.
Destacamos outra verdade escondida pelo dogma ecológico: os famosos 400 mil empregos germânicos de energia verde – eólica e solar – são bem apoiados por empregos “negros” oriundos do carvão, linhito ou gás. Se a última fonte cair, a primeira seguirá o mesmo caminho, como demonstrado pelo retorno da geração a carvão nesta semana em toda a região do Rio Reno, na Áustria e na Holanda.
A França, por sua vez, prefere a independência proporcionada pela energia nuclear a qualquer outra consideração. Ou seja, no que diz respeito ao carbono, ela já fez sua transição energética há 50 anos, na década de 1970. Mas, curiosamente, essa soberania poderá acabar nos próximos 50 anos, com a influência da “ecologia alemã”.
Reflexão alemã
A Alemanha deve revolucionar suas ideias, renuclearizando sua eletricidade e acoplando-a com suas fontes renováveis, em vez de depender de seu linhito ou gás russo. Falamos em revolução de ideias porque a energia nuclear futura deve atuar como limpadora de nossos rejeitos nucleares atuais, por meio de modernos reatores de nêutrons rápidos que queimarão o combustível nuclear irradiado de hoje.
A França também deve seguir esse caminho, no qual China, Japão, Índia e Rússia lideram. Os rejeitos armazenados na Alemanha e na França podem se converter em novo combustível nuclear, fomentando a economia circular nuclear europeia. Obteríamos independência da mineração de urânio e outros suprimentos e, portanto, uma soberania real, porque temos quantidades de combustível usado capazes de produzir nossa eletricidade por três a dez mil anos.
Leia o artigo completo, em francês, aqui.
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Autor: Didier Julienne
Foto: Central nuclear de Neckarwestheim, na Alemanha / Crédito: Der Spiegel
Fonte: La Tribune.fr