Setor elétrico da França nas mãos do Estado

Setor elétrico da França nas mãos do Estado

O governo francês, que já detém 84% de participação na empresa EDF, planeja assumir seu controle total

Reportagem da agência de notícias Dow Jones publicada no site do jornal Valor Econômico informa que o Governo da França anunciou que estatizará integralmente a companhia elétrica EDF sob a justificativa de que a medida é necessária para a transição do uso de combustíveis fósseis para fontes limpas na matriz elétrica do país.

Sendo o país mais “nuclearizado” do mundo, com cerca de 70% da eletricidade gerada em usinas nucleares, segundo dados do Sistema de Informação de Reatores de Potência da Agência Internacional de Energia Atômica (Pris/IAEA, na sigla em inglês), a França, na verdade, apenas “intensificaria” a descarbonização de sua matriz elétrica.

Além disso, a estatização total aumentará a segurança energética do país, uma vez que aconteceria em um momento de crise energética na Europa, no qual o custo dos combustíveis é alto em virtude da falta de oferta após cortes no fluxo de fornecimento do gás natural da Rússia como retaliação às sanções impostas a Moscou por causa da guerra promovida na Ucrânia.

O Estado da França já possui 84% de participação na EDF e, nesse contexto da invasão russa, vem passando por prejuízos bilionários desde que o presidente reeleito, Emmanuel Macron, impôs um limite nos preços das tarifas elétricas, obrigando a empresa a comprar combustíveis a preços mais altos sem repassar o custo aos consumidores.

Planos pró-nucleares

Outro motivo para a total estatização da EDF é que a companhia elétrica está no centro dos planos de Macron de expandir a geração nuclear na França, aproveitando a vocação do país no setor e a necessidade de combater as mudanças climáticas reduzindo as emissões de gases de efeito estufa provenientes do setor elétrico.

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Taxonomia: Parlamento Europeu considera a fonte nuclear “verde”

A posição francesa acerca da importância da fonte nucleoelétrica ganhou um “reforço” ontem, dia 6, quando o Parlamento Europeu aprovou resolução que considera a energia nuclear “verde”. Essa proposta ajudará a EDF a atrair mais investimentos, já que grande parte de sua produção energética vem de usinas nucleares. O selo de “energia verde” mobiliza investidores que buscam projetos sustentáveis para financiamento.

Na esteira do anúncio da estatização completa da EDF, o mercado se movimentou rapidamente para comprar as ações da empresa. Ontem, dia 6, ocorreu uma grande alta no preço das cotações da companhia, que fecharam o dia com valorização de 14,53%. A tendência é que a trajetória se mantenha até o governo francês finalizar o processo para tomar o controle total da EDF.

Autor: Matthew Dalton
Foto: Divulgação

Fonte: Dow Jones (matéria disponível no site do jornal Valor Econômico)