A questão dos rejeitos radioativos paira sobre o setor nuclear, mas os finlandeses têm um plano de descarte por 100 mil anos.
Por Alexander C. Kaufman
Do lado de fora, parece com qualquer outro edifício nórdico moderno, mas por dentro trabalhadores com capacete estão ocupados completando uma façanha inédita da engenharia. Ela envolve um sistema robótico e uma rede subterrânea de túneis em ziguezague esculpidos a mais de 1.300 pés na crosta terrestre. Chamado Onkalo, o projeto virará a página para um novo capítulo da história de 80 anos da energia nuclear.
Em questão de meses, máquinas dentro do edifício começarão uma rotina semanal que prosseguirá por um século: colocar hastes radioativas, com combustível nuclear irradiado, em cilindros de cobre. De lá, viajarão cerca de duas horas no subsolo para criptas destinadas a mantê-las intactas por milênios em leito rochoso, o qual geólogos garantem que não mudou em quase 2 bilhões de anos.
Selado duas vezes em argila de bentonita – que se expande quando molhada, evitando que a água penetre e corroa as cápsulas, e oferece estabilidade em caso de terremoto – o local destina-se a sepultar resíduos nucleares para o mais próximo da eternidade que qualquer esforço humano possa garantir.
A instalação armazenará rejeitos da central nuclear de Olkiluoto, localizada ao lado. Em março passado, a Finlândia ligou o terceiro – e maior – reator do sítio. Primeiro a ser inaugurado na Europa Ocidental em pelo menos 15 anos e um dos maiores já construídos (potência instalada de 1.720 megawatts – MW), o reator produzirá cerca de 14% da eletricidade da Finlândia. Combinado com as outras duas usinas da central, esse pedaço de ilha fornecerá 36% da energia do país escandinavo.
Onkalo tornará a central nuclear de Olkiluoto a primeira do mundo a solucionar o problema dos rejeitos radioativos, que é apontado como um grande contra da fonte de energia mais confiável e eficiente dominada pela humanidade.
Na visão de Janne Mokka, executivo-chefe da Posiva Oy, a empresa que está construindo o local de armazenamento, trata-se de “uma mensagem da Finlândia de que temos uma solução para tornar a energia nuclear sustentável”. Ele acrescenta: “Isso dá certeza sobre qual é a questão da disposição final. Isso nunca foi feito”.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), por sua vez, saudou Onkalo como um “divisor de águas” para a indústria nuclear quando seus funcionários visitaram o canteiro de obras em novembro de 2020.
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Imagem: Instalação de armazenamento de Onkalo na ilha de Olkiluoto / Alexander C. Kaufman/Huffpost
Fonte: Huffpost