Energia de rejeitos nucleares pode suprir EUA por 100 anos

Energia de rejeitos nucleares pode suprir EUA por 100 anos

Questões-chave:

* Os rejeitos radioativos nos Estados Unidos poderiam abastecer todo o país por 100 anos com energia limpa, declarou um diretor do Idaho National Laboratory/EUA, Jess C. Gehin.

* A tecnologia para converter resíduo nuclear em energia, conhecida como reator nuclear rápido, existe há décadas. Ela foi comprovada por uma planta-piloto de laboratório de pesquisa do governo estadunidense que operou dos anos 60 até os 90, mas nunca apresentou viabilidade econômica para o desenvolvimento em escala.

* Várias empresas privadas de inovação nuclear estão desenvolvendo reatores comerciais rápidos, como Oklo e TerraPower. Contudo, existem problemas na cadeia de suprimentos nos EUA para a produção do combustível de reatores rápidos.

Há energia suficiente nos rejeitos nucleares nos Estados Unidos para abastecer o país por um século, e isso poderia ajudar a resolver o problema espinhoso e politicamente complexo de gerenciar o combustível nuclear irradiado.

A informação é do diretor de laboratório associado do Idaho National Laboratory – um dos principais laboratórios de pesquisa de energia do governo estadunidense -, Jess C. Gehin. Além disso, como supracitada, a tecnologia necessária para reaproveitar esse combustível existe há décadas, por meio de reatores nucleares rápidos.

Por razões políticas e econômicas, a tecnologia nunca foi desenvolvida em escala comercial. Contudo, como hoje há uma crescente urgência em lidar com as mudanças climáticas descarbonizando as redes de energia, e a fonte nuclear é essencial por ser limpa e de base, esse panorama pode mudar: os reatores nucleares rápidos voltaram a receber um “olhar sério”.

“Parece que é real – ou mais real – do que nunca para mim”, disse Brett Rampal, especialista em energia nuclear da Segra Capital Management. Ele realizou seu projeto sênior na Universidade da Flórida (EUA) sobre o assunto em 2007 e relembrou que seus professores discutiam sobre o futuro da tecnologia já naquela época.

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Tecnologia antiga e comprovada

Existem 93 reatores nucleares comerciais em 55 sítios em operação nos Estados Unidos, de acordo com Scott Burnell, porta-voz da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA (U.S.NRC, na sigla em inglês) – 26 estão em algum estágio de descomissionamento. Todos os reatores nucleares que operam nos país são de água leve, completou Burnell à rede de notícias de negócios e finanças CNBC.

Nesse tipo de reator, o combustível de urânio-235 alimenta uma reação de fissão, na qual um átomo se divide e libera energia que aquece água, criando vapor utilizado para alimentar um gerador e produzir eletricidade.

A reação de fissão nuclear cria resíduos radioativos, que são depositados com total segurança. Nos EUA, existem cerca de 80 mil toneladas métricas de combustível usado em reatores nucleares de água leve e a frota existente produz aproximadamente duas mil toneladas de combustível irradiado anualmente. Esse material armazena um tremendo potencial energético.

“Fundamentalmente, usamos meio por cento da energia que está no urânio que é extraído do solo em reatores de água leve”, informou Jess C. Gehin à CNBC. “É possível obter uma grande fração dessa energia se reciclarmos o combustível em reatores rápidos”, completou.

Reatores rápidos não retardam os nêutrons liberados na reação de fissão nuclear, e nêutrons mais rápidos geram reações de fissão mais eficientes, explicou Gehin. “Reatores de nêutrons rápidos podem converter mais eficazmente o urânio-238, predominante em combustível irradiado, em plutônio, para que você possa fissioná-lo”, argumentou.

A tecnologia para reatores nucleares rápidos existe há mais de cinquenta anos. Uma planta chamada Experimental Breeder Reactor-II (EBR-II) começou a ser construída em 1958 e operou de 1964 a 1994, até que o Congresso dos EUA interrompeu o financiamento.

“Nós operamos o EBR-II por 30 anos, recuperamos urânio e o colocamos de volta no reator”, esclareceu o diretor do Idaho National Laboratory. “Está comprovado que isso pode ser feito. O truque é partir para a escala comercial para garantir que o processo seja economicamente viável. É uma tecnologia muito segura. Toda a sua base foi comprovada”, assinalou.

Embora um reator rápido reduza drasticamente a quantidade de combustível gasto, ele não o elimina totalmente. “Ainda existiriam resíduos, mas a quantidade de rejeitos de longo prazo seria significativamente reduzida”, explicou Gehin.

Leia a matéria completa, em inglês, aqui.

Foto: EBR-II no Idaho National Laboratory / Cortesia do Idaho National Laboratory

Fonte: CNBC / Autora: Catherine Clifford